sábado, 31 de março de 2018

Memória da Cidade de Macapá: Você sabe o que significa Beirol?

Articulista Nilson Montoril de Araújo – professor, historiador, radialista, blogueiro e atual Presidente da Academia Amapaense de Letras – em um artigo recém-publicado no Jornal Diário do Amapá, conta com riqueza de detalhes, o verdadeiro significado da palavra beirol.
“Três tipos de falésias existiram em Macapá, na margem esquerda do Rio Amazonas. 
Imagem: Reprodução / Arquivo Histórico do Amapá
Imagens: Reprodução / Google
Imagens: Reprodução / Google
Imagens: Reprodução / Google
Imagens: Reprodução/"Blog Canto da Amazônia"
As falésias da Fortaleza de São José se destacaram mais, tendo entre 5 a 6 metros de altura. À esquerda da imponente fortificação, um pouco além do Igarapé do Igapó tinha início outro trecho, que correspondia ao perímetro entre a área da antiga Rua da Praia, até o torrão cortado pela Rua Cândido Mendes de Almeida. Nessa parte elevada foram edificados o Fórum de Macapá, atual OAB, Residência Governamental, Posto de Puericultura Iracema Carvão Nunes, Casa Maternal, Rádio Difusora de Macapá, Laboratório de Análises Clínicas, Escola José de Alencar e várias residências. Em termos de vias públicas, podemos enquadrar o trecho entre as Avenidas Padre Júlio Maria de Lombarde e Matheus de Azevedo Coutinho. À esquerda da Fortaleza, a partir do ponto onde foi aberta a Avenida Ataíde Teive, até o prédio do Sesc/Araxá, ainda podemos ver sinais evidentes da terceira falésia, notando o quanto ela é alta.
A toda esta extensão de terra, os militares da Fortaleza chamavam de beirol. A designação é bem interessante e não aparece nos dicionários brasileiros. A rigor, nem em Portugal a palavra é empregada. Então, qual a origem do vocábulo? Existiu em Portugal, uma casa de detenção denominada “Prezidio de Beirollas”, certamente erguido em área de falésias à beira mar. Beirollas passou a ser escrito como beirola, significando beirada ou beira, correspondendo a uma espécie de paredão de terra. Originaram-se de beirola as palavras beiranita, beiranito, beiredo, beiró, beirô, beiroa e beirão, que é o feminino de beirola e quer dizer habitante da beira.
Consta que por ocasião dos exercícios de tiro com canhões instalados no baluarte Madre de Deus, os artilheiros das forças aquarteladas na Fortaleza usavam como alvo, uma parte do paredão ou beirol, na área onde surgiu a comunidade de Mucajá. O nome beirol voltou a ser mencionado após a instalação do Território Federal do Amapá, haja vista que a área do atual bairro macapaense foi escolhida para ser concedida às pessoas interessadas em desenvolver atividades próprias do setor primário. Os lotes, com cerca de 500m de frente por 500 de fundo, deveriam abrigar projetos de criação de aves, suínos, bovinos e produção de verduras e frutos. Infelizmente, alguns dos contemplados com lotes não permaneceram o tempo necessário para tocarem seus projetos. 
Imagens: Reproduções / G1-AP, Google e Blog Porta-Retrato
Apenas dois detentores de lotes levaram em frente suas iniciativas; Cláudio Carvalho do Nascimento e Antônio Barbosa, o dono da Vacaria(vide fotos acima). Atualmente, apenas o primeiro permanece residindo no lote recebido. Ali, ele criou gado e desenvolveu outras importantes atividades. Sua propriedade ficava bem isolada do centro de Macapá e boa parte do terreno era alagada. Nem o trecho da estrada Macapá/Fazendinha passava em frente de sua casa. Aos poucos, o Beirol foi sendo ocupado por novos moradores de Macapá, que não conseguiram terreno do Trem. 
Imagem: Reprodução / IBGE
Em 1949, o Beirol sediou uma Colônia Prisional, o primeiro presídio da cidade. Antes dele, os presos com penas mais drásticas iam cumpri-las em Belém, no Presídio São José. Os demais ficavam na Fortaleza. Os apenados do Beirol criavam aves, suínos e plantavam árvores frutíferas, principalmente caju. 
Por causa disso, o presídio era identificado como Cajual. Num espaço hoje ocupado pela Igreja de São Pedro e um posto de saúde do Lions Clube, foi construído um forno crematório.
A rodovia Macapá Fazendinha, perímetro da atual Jovino Dinoá, começava na Avenida Feliciano Coelho e passava entre o Presídio e o forno crematório. No segundo semestre de 1949, quando o governo amapaense decidiu construir um estádio de futebol, nos termos exigidos pela Confederação Brasileira de Desportos e Fifa, uma área próxima à Colônia Prisional São Pedro foi escolhida, mas descartada por ser julgada distante do centro de Macapá. O Estádio Territorial, depois Municipal, e mais tarde Glicério Marques, despontou um pouco além da Favela. Na área litorânea do bairro Santa Inês, originalmente chamada Vacaria, as águas do Amazonas lavavam o terreno baixo inundável. O aparecimento do Araxá foi obra de Pauxy Gentil Nunes, que ali fixou um rudimentar balneário para uso nos fins de semana. O acesso era feito pela estrada Macapá/Fazendinha, da mesma forma que hoje prevalece, através da Rua Jovino Albuquerque Dinoá.”(Nilson Montoril)
Texto de Nilson Montoril publicado originalmente na edição do dia 10 de março de 2018, no Jornal Diário do Amapá.

4 comentários:

  1. Muito elucidativo... Macapá...vai se afastando do seu início da sua criação, com memória.Parabens!

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  2. Muito feliz em poder conhecer um pouco mais do meu querido bairro e da minha querida Macapá, parabéns pela postagem!

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  3. Onde era o local do bairro ficava esse presídio, pq me falaram q disseram q era onde é o Sesc hj, é vdd?

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