terça-feira, 10 de maio de 2011

ESPECIAL: TREM SEM TRILHOS

(Foto: Reprodução/Arquivo)
                        (*) Nilson Montoril

                Por desinformação ou por teimosia, alguns habitantes do Estado do Amapá divulgam fatos incorretos sobre nossa história. Como atualmente quase ninguém faz uso dos velhos e sábios ditos populares, é bom lembrar que “nem tudo que reluz é ouro”. O nome Trem, que designa o terceiro bairro surgido em Macapá e um tradicional clube desportivo nada tem a ver com locomotiva. A palavra trem corresponde ao conjunto de ferramentas utilizadas para a realização de determinada atividade. Com o passar do tempo, ganhou o sentido de algo feito de modo empírico e desconhecido da maioria da população, que o digam os mineiros. Por ocasião da construção da Fortaleza São José, na então vila de Macapá, os edificadores do importante monumento bélico lapidavam as pedras brutas trazidas das campinas do rio Araperu utilizando marretas, talhadeiras, compassos e outras ferramentas para moldá-las de acordo com as medidas recomendadas pelos engenheiros militares. As pedras eram trabalhadas em um grande barracão situado na área que hoje abriga residências entre a Rua Tiradentes e a Praça Floriano Peixoto. A barulhenta oficina tinha o nome de trem de lapidação. Uma vez formatadas, as pedras estavam prontas para serem assentadas nas muralhas, nas almeias e nos baluartes. O trabalho de lapidação exigia muita concentração e perseverança e era realizado em grande escala pelos escravos sob a supervisão de um auxiliar de engenharia. Basta alguém observar detalhadamente a Fortaleza para ter noção do belo trabalho desenvolvido na preparação de cada peça, notadamente nas que foram assentadas nos pontos de contorno e no frontispício do portão principal. Se os restos das pedras lapidadas não foram encontrados na área acima referida é porque tudo foi recolhido para aterrar os espaços do pátio central, dos baluartes e das almeias. As pedras foram transportadas para Macapá em barcaças pilotadas pelos índios e descarregadas perto do canteiro de obra. Daí seguiam em carros de boi até o trem de lapidação. Quando o Capitão Janary Nunes instalou o governo do Território Federal do Amapá, aqui só existia o bairro central. A partir de abril de 1944, começou a transferências de algumas famílias afro descentes que habitavam as laterais do antigo Largo de São João e áreas adjacentes, todas devidamente indenizadas, para os campos do Laguinho. Pouco depois, com o crescimento da população, espaços próximos à Fortaleza foram progressivamente ocupados até ultrapassarem a área onde existiu o trem de lapidação. O novo bairro passou a ser identificado como bairro da Fortaleza. Graças ao historiador Arthur César Ferreira Reis, despontou a idéia de identificar o bairro como Trem, que foi muito bem aceita. Há que diga que o nome é trem porque era intensão da ICOMI construir o porto de embarque de manganês no Elesbão. Consequentemente, uma estrada de ferro ligaria Macapá a Terezinha, na Serra do Navio. Pura invencionice, haja vista que a ICOMI se valeu de estudos efetivados pelo governo do Amapá sobre o Porto de Santana para construir o cais flutuante e seu trapiche. Além disso, o contrato para a construção da Estada de Ferro do Amapá só foi assinado em março de 1953 e a rodovia inaugurada em 5 de janeiro de 1957.
                Na esfera militar, durante muitos anos, quando alguém se referia ao local onde eram guardadas as armas de artilharia, balas e munições, usava o termo trem de guerra ou de artilharia. Em diversos paises o velho costume foi preservado. Recentemente, quando o Trem Desportivo Clube foi jogar contra o Náutico Capibaribe, em Recife, a crônica esportiva brasileira achou curioso o nome do nosso representante na Copa Brasil e fez gozação. A Rede Globo chegou a mostrar uma composição se deslocando sobre trilhos. O clube rubro-negro de Macapá foi fundado a 1º de Janeiro de 1947, com o pomposo nome de Trem Esporte Clube Beneficente. Com sua sede edificada no bairro onde residiam famílias com prole numerosa, recebeu o epíteto de Clube Proletário. Porém, nunca seus fundadores o chamaram de locomotiva. O Trem do bairro do Trem não é trem que corre em trilhos, como são os trens da alegria, cujos maquinistas são os políticos e seus apadrinhados de má índole.

                         (*) Historiador, professor e radialista amapaense. Via e-mail

2 comentários:

  1. Gostaria de saber quais as fontes utilizadas para formar o texto. Estou realizando uma pequena pesquisa em relação à origem do Bairro e assim queria certificar se as informações tem fundamentos.

    Obrigada!

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  2. Gostaria de saber quais as suas fontes. Pretendo realizar uma pesquisa na área.

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