terça-feira, 16 de abril de 2024

PIONEIRO DO ESCOTISMO AMAPAENSE > CHEFE DÁRIO CORDEIRO JASSÉ (in memorian)

Chefe DÁRIO CORDEIRO JASSÉ, deixou seu nome nos anais do Movimento Escoteiro do Amapá. 

Foi dele a iniciativa de fundar no dia 13 de julho de 1947, em Macapá, a Associação de Escoteiros do Mar “Marcílio Dias”.

Em razão disso, o blog Porta-Retrato-Macapá presta-lhe merecida homenagem póstuma.

O paraense DÁRIO CORDEIRO JASSÉ, filho de José Jassé e Rita Cordeiro Jassé, nasceu em Belém/PA, dia 18 de maio de 1907. Enquanto permaneceu em Belém residiu na Rua dos 48, por trás da Igreja da Santíssima Trindade e na Avenida 25 de setembro, aos fundos do Bosque Rodrigues Alves. Na capital paraense ministrou aulas de educação física em diversos estabelecimentos de ensino e integrou o movimento escoteiro. Convidado para trabalhar em Macapá, Dário Jassé lá chegou em abril de 1947, sendo lotado na então Divisão de Educação e exercendo a função de Inspetor de Ensino. Fixou residência no bairro do Trem, onde a Prefeitura de Macapá havia concedido à associação que dirigia uma ampla área delimitada pelas Avenidas Cônego Domingos Maltez/Antônio Gonçalves Tocantins e pelas Ruas General Rondon/Eliezer Levy. De imediato foi demarcado um campo de futebol e iniciada a construção de um barracão. As instruções sobre o escotismo eram ministradas no revelim da Fortaleza de São José. No pentágono localizado à frente da Fortaleza, o chefe Dário Cordeiro Jassé ministrava os ensinamentos sobre escotismo aos componentes do Grupo Marcílio Dias. As aulas sempre ocorriam à tarde e atraiam dezenas de curiosos, principalmente crianças.

Família

Chefe Dário Jassé teve ao todo dez (10) filhos, frutos de dois relacionamentos: seis homens e quatro mulheres, duas delas são macapaenses: além de Rita Célia, que mora em Brasília, e Regina Clélia que mora em Macapá, havia um menino de nome Manoel que viveu poucos dias, e era o único filho macapaense. Os demais, todos paraenses: Lia, a mais velha de todos, ainda viva e lúcida, com mais de 90 anos (95/96) mora no Rio de Janeiro. Norma, Dário Maurício, José, Carlos Fernando e Raimundo Sérgio são falecidos. Nosso informante o paraense Antônio Mario, hoje (2024) com 77 anos, aposentado, também mora em Macapá há muitos anos, casado com uma das filhas do Seu Barbosa, reside na área da antiga Vacaria, no bairro do Beirol.

Morte e homenagens póstumas

Em 1953, doente, chefe Dário Jassé foi internado no Hospital do IPASE, no Rio de Janeiro, onde faleceu a nove de março. Em maio ele completaria 46 anos de idade. O corpo de Dário Jassé foi enterrado no cemitério São João Batista e o governo do Amapá arcou com as despesas de seu funeral. Dário Jassé era o Comissário Regional da União dos Escoteiros do Brasil, no Amapá e Clodoaldo Nascimento o subcomissário. No dia 3/4/1953, às 10 horas, o Grupo Marcílio Dias prestou-lhe homenagens na área da entidade que fundara. Houve hasteamento da bandeira nacional e colocação de uma placa homenageando o extinto. O tenente Glycério de Souza Marques teceu breves comentários sobre a vida do Professor Jassé. Compareceram à solenidade: o Dr. Hildemar Pimentel Maia, governador em exercício; Heitor de Azevedo Picanço, presidente da União dos Escoteiros do Brasil - Regional do Amapá; Jacy Barata Jucá, presidente da Associação Marcílio Dias e Clodoaldo Carvalho do Nascimento, Comissário Regional substituto. Cantou-se a canção do silêncio e a valsa da despedida. Jacy Barata Jucá e Heitor Picanço descerraram a placa Dário Jassé com os dizeres: “Marcílio Dias, Campo Escola Dário Jassé. Em 1958, o chefe Clodoaldo Nascimento foi ao Rio de Janeiro para providenciar a vinda dos despojos de Dário Jassé para Macapá, fato concretizado dia 17/11/1958, em avião do Lóide Aéreo Nacional.

A foto acima, registra o momento em que a carreta que transportava a urna mortuária do chefe Dário Cordeiro Jassé estacionava no pátio central da Fortaleza de Macapá e o chefe Raimundo Façanha direcionava a roda dianteira esquerda do pequeno veículo no sentido da capela de São José. Do lado oposto, entre os escoteiros que empurravam o carro vemos o chefe Luciano. No interior da carreta há dois lobinhos do Grupo Marcílio Dias. O lobinho que está perto do chefe Luciano é o Urivino Bandeira, ainda vivo. Dentre as pessoas que recepcionaram o chefe escoteiro falecido identificamos o senhor Belarmino Paraense de Barros, de roupa branca e o Inspetor da Guarda Territorial Ítalo Marques Picanço que faz a saudação escoteira. Observe que a urna mortuária estava na carreta e sobre ela foi postada uma flor de lis, o símbolo do escotismo. Esta urna ainda se encontra guardada no interior da Fortaleza. A urna mortuária, contendo na parte superior uma flor de lis, símbolo do escotismo, foi trasladada para a capela de São José, na Fortaleza de Macapá. À época, ainda se falava na construção de um memorial destinado aos pioneiros da implantação do Território do Amapá e a urna contendo os restos mortais de Dário Jassé seria guardada no citado monumento juntamente com os despojos de Joaquim Caetano da Silva. Com o passar dos anos, muitos mentores da ideia deixaram o Amapá e ela foi fenecendo. Durante muito tempo as urnas de Joaquim Caetano e de Dário Jassé permaneceram na sacristia da capela da Fortaleza. Transferidas para outro edifício do velho forte, elas passaram a figurar como reserva técnica do Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva. Atualmente, a urna do patrono do museu está guardada no prédio da antiga Intendência de Macapá. A urna de Dário Jassé permanece como “reserva técnica” e mantida na Fortaleza. O historiador Nilson Montoril de Araújo afirmava com absoluta convicção que os restos mortais contidos na urna que está sendo mantida na Fortaleza são de Dário Cordeiro Jassé. Ele viu a urna chegar a Macapá e acompanhou o féretro até a Fortaleza. Naquele dia 17 de novembro de 1958, Nilson estava entre os escoteiros macapaenses, pois integrava o Grupo São Jorge. Dentre os pioneiros do escotismo no Amapá, ainda vivo o chefe José Raimundo Barata, com 96/97 anos e reside em Belém do Pará. Manoel Ferreira, o popular Biroba, que era um dos chefes dos escoteiros do mar também testemunhou o fato aqui narrado.

Texto de Nilson Montoril, adaptado para o Porta-Retrato, publicado originalmente no blog Arambaé, do próprio Nilson.

Nota do EditorAgradecemos ao amigo Antônio Mário, filho do biografado, que contribuiu com informações para atualização desta biografia! (João Lázaro)

segunda-feira, 15 de abril de 2024

CULTURA: FUTLAMA – PATRIMÔNIO CULTURAL E IMATERIAL DE MACAPÁ

Foto: Arquivo GE/AP
De acordo com o Museu do Futebol, o futlama é uma modalidade que os ribeirinhos das ilhas do Amapá praticam nas lamas formadas pela baixa maré às margens do Rio Amazonas. A movimentação das águas determina a forma do campo e o horário das partidas, onde é usada uma bola impermeabilizada para não encher de água. O "futebol na lama" surgiu de forma informal, quando amigos se reuniam nos fins de semana para jogar peladas na beira do rio, na década de 1990. Os praticantes são residentes nos bairros Santa Inês, Perpétuo Socorro e Cidade Nova. O principal local para os jogos é o trecho do rio situado ao lado do Trapiche Eliezer Levy, próximo à imagem de São José, padroeiro do Estado, com vista para o Complexo Beira Rio e a bicentenária Fortaleza de São José, locais de referência e cartões postais de Macapá. A prática requer maior cuidado, uma vez que a praia é lisa, e é necessário ter cautela para não causar danos ao adversário. Além disso, é um meio de entretenimento para atletas e familiares que assistem às partidas. A prática se tornou um esporte e, atualmente, conta com uma federação e um campeonato estaduais, que ocorrem entre agosto e outubro. A Federação Amapaense de Futlama foi constituída em 27 de agosto de 2007. 

Foto: PMM/Divulgação

O campeonato já teve três edições, com a participação média de 100 equipes, incluindo equipes femininas e masculinas, que participaram do evento. Além do torneio oficial, é possível encontrar pessoas jogando bola nos campos cobertos de lama à margem do rio, ao longo de todo o ano. Os times têm nomes que homenageiam termos regionais como "Tralhoto" e "Carataí", que são nomes de peixes da região amazônica. Os pássaros "Tico-tico" e "Beija-flor", "Pau-ferro" e "Maçaranduba", nomes de madeiras nativas, são alguns exemplos. Participam ainda as equipes de Acari, Boto Cor de Rosa, Peixe-Boi, Tucunaré, Candiru, Tilápia, Carpa, Gavião, União São João, Camarão, Vento D`água, Turu, Peixe Espada, Sereias, Amazonas, Água-Marinha, Abacaxi, Jacaretinga, Tubarão Branco, Falcão, Pratinha, Beta Azul, Orquídea, Kanário, Coração, Arraia, Jaú e Flamingo, etc.

As regras do futsal são as mesmas. O escanteio é diferente, pois pode ser cobrado com os pés ou com as mãos.

Em maio de 2021, o futlama foi declarado Patrimônio Cultural e Imaterial de Macapá por meio da Lei 2454/2021, de autoria do vereador Alexandre Azevedo, e sancionada pelo prefeito da capital, Dr. Furlan.

Fonte: Museu do Futebol

quarta-feira, 3 de abril de 2024

UM PIONEIRO DO AMAPÁ > JOSÉ OTÁVIO MAIA (in memoriam)

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Nossa homenagem póstuma a um dos Pioneiros do Amapá.

JOSÉ OTÁVIO MAIA um dos Pioneiros do Amapá, nasceu em Fortaleza, Ceará em 19 de junho de 1925, filho de José Augusto Brandão Maia e Maria Brandão Maia. Apesar de não ter formação superior, seu conhecimento empírico o permitiu executar diversas tarefas de forma segura e com excelente desempenho.  Chegou ao então Território Federal do Amapá em meados de 1945, recrutado para trabalhar como soldado da borracha, na extração do látex, suco leitoso esbranquiçado tirado da seringueira. Deixou a mata e foi para a cidade. A empresa ICOMI, sediada em Santana, ofereceu-lhe um emprego na estação ferroviária de Porto Platon.  Após alguns anos, no final dos anos 50, saiu da empresa para ingressar no quadro de funcionários do Governo do Território do Amapá. Viveu com a família por mais de 25 anos na Av. Raimundo Álvares da Costa, situada entre as Ruas Tiradentes e São José, em frente à antiga Garagem Territorial. Com desempenho e competência, ocupou cargos de relevância nos governos da época:  foi Diretor da Rádio Difusora de Macapá, trabalhou na Garagem Territorial e na Secretaria de Educação. Atuou como professor na Escola Industrial de Macapá, tendo, posteriormente, conseguido  sua aposentadoria. Era casado com a Sra. Norma Magalhães Maia, com quem teve 12 filhos, sendo que 4 já faleceram. Teve ainda 32 netos, 24 bisnetos e 02 tataranetos. Em 19 de fevereiro de 1992, aos 66 anos de idade, faleceu em Belém do Pará, vítima de um câncer na garganta e faringe. O corpo foi trasladado para Macapá e está sepultado no Cemitério de São José, situado no Bairro de Santa Rita.

Nota do Editor: Agradecemos ao Carlos Magno, filho do biografado, que nos auxiliou na elaboração desta biografia! (João Lázaro)

segunda-feira, 25 de março de 2024

MEMÓRIA DA SEGURANÇA PÚBLICA AMAPAENSE - DR. HILDEBERTO CARNEIRO DA CRUZ - DELEGADO

Hildeberto Carneiro da Cruz veio ao mundo em 17 de novembro de 1947, na cidade de Belterra/PA. Após concluir o curso de direito em Belém, se mudou para Macapá no ano de 1976, ao ser aprovado no concurso para delegado de polícia do ex-Território Federal do Amapá. Em Belém, conheceu Judite Saldanha da Cruz e a levou para Macapá, com quem foi casado por 37 anos. Juntos tiveram dois filhos biológicos, adotaram outros três e tinham três netos. Iniciou sua carreira em Santana, onde foi titular da 1ª DP da cidade. Passou por Oiapoque e, posteriormente, em Macapá, atuou em diversas delegacias, como a de Crimes Contra o Patrimônio, de Tóxicos e Entorpecentes, de Crimes Contra a Pessoa, do Menor, na 4ª e 6ª DP, nos Departamentos de Polícia Especializada, da Capital e do Interior. Foi idealizador e fundador da Academia de Polícia (ACADEPOL) além de atuar como instrutor nela e no Curso de Formação para Vigilantes.

Hildeberto foi um dos primeiros coordenadores do Centro Integrado de Operações e Segurança Pública (Ciosp), além de ter sido Secretário de Justiça e Segurança Pública. Após 37 anos de dedicação como delegado, se aposentou pela Corregedoria de Polícia Civil. Reconhecido por sua simplicidade e bom humor, sua vasta experiência profissional foi fundamental na resolução de casos complexos, como o desaparecimento de Jhonny Breno, os assassinatos de Maguila, Willian Dickson e Josias Oliveira, este último conhecido como o crime da lavagem. Enfrentou acusações de tortura, as quais foram prontamente rebatidas pela sua integridade e caráter já conhecidos pelos magistrados. Querido por todos, Hildeberto deixou um legado de respeito e admiração para colegas de profissão, amigos e familiares. Delegado Hildeberto Carneiro da Cruz faleceu no dia 11 de junho de 2013, aos 65 anos de idade, no Hospital São Camilo. Ele vinha enfrentando problemas cardíacos há cerca de cinco anos e já havia passado por três intervenções cirúrgicas. Ficou hospitalizado desde o dia 7 devido a uma pneumonia e, infelizmente, acabou sofrendo complicações, incluindo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e arritmia cardíaca, na madrugada do dia 11. Seu corpo foi velado no Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Amapá (Sinpol), onde familiares, amigos íntimos e colegas de profissão assistiram à missa de corpo presente celebrada pelo Pe. Hildeberto Carneiro da Cruz Júnior, depois puderam prestar suas últimas homenagens. Delegado Hildeberto foi sepultado no cemitério São José, no bairro Santa Rita, Zona Sul de Macapá, onde repousa em paz.

Texto de Elen Costa da Redação do blog Alexandro Colares notícias, adaptado e atualizado com informações da família, para o blog Porta-Retrato - Macapá

NOTA DO EDITOR Externamos nossa eterna gratidão ao Pe. Hildeberto Carneiro da Cruz Júnior - Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Macapá - pela imprescindível colaboração no fornecimento e confirmação das informações relacionadas à vida de seu pai, homenageado pelo blog Porta-Retrato- Macapá! (João Lázaro)


sexta-feira, 15 de março de 2024

MEMÓRIA DA MACAPÁ ANTIGA – TEÓFILO MOREIRA DE SOUZA - UM PIONEIRO DE RAIZ

Nosso biografado de hoje é pioneiro de raiz de Macapá. Cidadão simples, pobre, humilde, mas com valores que o faziam um homem correto, respeitador e de nobres princípios. Foi criado pelo Coronel Sobrinho, de quem era afilhado. Coronel Sobrinho era um fazendeiro no município de Amapá que foi conselheiro e depois Presidente da Companhia de Eletricidade do Amapá, nos anos de 1950.

Numa justa homenagem póstuma a este modesto senhor, o amigo e contemporâneo José Machado conta ao blog Porta-Retrato-Macapá um pouco da vida deste grande e saudoso amapaense. José Machado foi vizinho dele por mais de 30 anos no bairro do Trem, na Av. Cônego Domingos Maltez, próximo ao SESI. Quando o conheceu Machado tinha aproximadamente, uns oito anos de idade. Teófilo e a irmã, foram colegas de trabalho de dona Maria Raimunda Barros Machado - mãe dele - no Hotel Macapá.

TEÓFILO MOREIRA DE SOUZA, nasceu em 2 de novembro de 1915, na vila de São José de Macapá. De família humilde, tradicional, mas com formação moral e religiosa muito forte; desde cedo seus pais incutiram-lhe o valor e o gosto pelo trabalho. Por necessidade de contribuir com a rentabilidade familiar, começou sua vida de labuta ainda adolescente desempenhando várias atividades informais, até conseguir emprego na Indústria e Comércio de Minérios S/A – ICOMI, empresa do grupo CAEMI, que iniciava a exploração das jazidas de manganês no Amapá, e precisava de um grande contingente de mão-de-obra. Alguns anos depois, contraiu matrimônio e optou por um emprego que pudesse estar mais perto da família. Por indicação da sua irmã Raimunda Moreira, que já era funcionária do Macapá Hotel, conseguiu uma vaga como cozinheiro. Com a terceirização do hotel em meados dos anos 60, todos os servidores dentre os quais ele estava incluso, que não tinham vínculo empregatício com o GTFA – Governo do Território Federal do Amapá, foram dispensados. Graças a religiosidade que exerce uma influência determinante sobre as outras esferas da vida social, como a cultura, política e trabalho, não foi difícil conseguir um novo emprego, na então gráfica São José recém-criada. Com a inauguração da Rádio Educadora São José de Macapá em agosto de 1968 - como ambas as entidades eram vinculadas a prelazia de Macapá, Teófilo passou a exercer suas atividades também na emissora, no horário noturno como vigia. Com a desativação da rádio, Diô como era tratado na intimidade pelos radialistas, tendo ingressado na terceira idade e não alfabetizado, sabia da dificuldade que enfrentaria por um novo emprego. Providenciou então sua aposentadoria, pois já tinha tempo suficiente de contribuição previdenciária. Descansar, curtir a família, aproveitar todo o tempo que não pôde, e recuperar os longos anos de trabalho eram algumas das ideias que passavam pela sua cabeça. Porém jamais pensou em se isolar dentro de casa. Diô, era um ser social, as relações interpessoais faziam parte da sua natureza. Manter esses vínculos e laços de amizade estava diretamente em seus novos planos. Por isso, costumava sair pela tarde para tomar um pouco de sol, fazer uma caminhada e visitar os amigos. Segundo sua filha, a socióloga Lúcia Moreira, esses encontros eram muito benéficos psicologicamente. Voltava com um brilho no olhar, muito feliz por haver encontrado os velhos amigos, e a satisfação de colocar a ‘prosa’ em dia e ainda relembrar os bons momentos que viveram em clima de nostalgia.  Ironia da vida – em uma dessas caminhadas para encontrar os amigos dia 1 de novembro de 1989 (DIÔ), sofreu uma parada cardiorrespiratória em via pública e foi internado na UTI do então hospital geral de Macapá vindo falecer dia três de novembro de 1989 de infarto do miocárdio aos 74 anos de idade, no dia seguinte de seu aniversário natalício.

Texto de José Machado – radialista e jornalista do Amapá.

Nota do Editor - Tive a felicidade de conhecer seu Teófilo (Diô) no tempo em que trabalhei na Rádio Educadora São José de Macapá, de 1968 a 1972, quando ele era vigia noturno da emissora. Era uma pessoa muito querida por toda a equipe. Depois que saí da Rádio nunca mais tive notícias dele, somente agora através dessa matéria e das fotos. Tenho boas lembranças! Esta é nossa singela homenagem póstuma, ao grande e saudoso Diô, macapaense de raiz. Deus o tenha! (João Lázaro)

sábado, 9 de março de 2024

FOTO MEMÓRIA DO COMÉRCIO AMAPAENSE – COMERCIANTE (CASA FLOR DO AFUÁ) - ESDRAS PINHEIRO TORRES (In memoriam)

O comerciante ESDRAS PINHEIRO TORRES – um dos pioneiros do Comércio amapaense – nasceu em Belém (PA), na sexta-feira, dia 03.03.1905, filho de João Torres Filho e Raymunda Pinheiro Torres. O pai dele foi Pastor Moderador da PIB – Primeira Igreja Batista do Pará no ano de 1908 e Pastor da PIB – Primeira Igreja Batista do Maranhão nos anos 1909/1910. Antes de ir para o Amapá, ele desenvolveu atividades de Pintor Decorador, Trabalhador e Mestre de Obras da Construção Civil. Em 1951 foi para Macapá, procedente de Belém, para realizar um trabalho (área da construção civil) na Casa California, a convite de seu proprietário Sr. Salim Elias Mourad. A Casa Califórnia, um dos primeiros estabelecimentos comerciais instalados em Macapá com vendas de fazendas, miudezas e estivas em geral, situava-se na área hoje (2024) ocupada pelo Shopping Popular, na Rua São José, próximo ao Mercado Central.  A partir daí, incentivado pelo Sr. Salim e percebendo que Macapá oferecia boas oportunidades de trabalho, mandou buscar sua família, que morava na capital paraense (a viagem para Macapá foi feita pelo Rebocador Araguari). As oportunidades de trabalho eram resultado do desenvolvimento e crescimento de Macapá, considerando os investimentos do Governo Federal em infraestrutura, após a criação do Território do Amapá, em 1943. Após um breve período atuando na construção civil, mudou de ramo, adquirindo um pequeno ponto comercial na Rua Candido Mendes, entre as atuais Av. Coaracy Nunes e Av. Mendonça Junior. O empreendimento foi registrado na JUCAP, em 01.06.1952, no ramo de Comércio em geral, em nome de sua esposa Marta Trajano Torres, primeiramente com o nome fantasia de Casa Flor da Síria posteriormente mudou para CASA FLOR DO AFUÁ, em homenagem aos afuaenses, que eram fregueses de seu comércio quando iam à Macapá fazer compras. O nome Casa Flor da Síria, posteriormente, foi utilizado por outro comerciante. 

COMÉRCIO ITINERANTE EM SERRA DO NAVIO.

Para impulsionar as vendas, aumentar a receita da Casa Flor do Afuá e, sobretudo, atender clientes distantes da cidade, Seu Esdras realizava viagens mensais à Serra do Navio. Da mesma forma, um grupo de comerciantes de Macapá, autorizados pela ICOMI, seguia para lá durante o período de pagamento dos funcionários da Companhia. A estadia em Serra do Navio durava três dias, com a maioria dos comerciantes improvisando a hospedagem no próprio local de venda ou na casa de algum conhecido. 

As mercadorias eram dispostas no prédio onde funcionava o Manganês Esporte Clube e o Supermercado, seguindo um padrão norte-americano, o que era inovador para a época. Os comerciantes, chamados de "marreteiros", inicialmente viajavam para Santana em um caminhão alugado, saindo da loja na Cândido Mendes por volta das 22h. O trem da ICOMI partia à meia-noite e chegava às 6h em Serra do Navio, onde eram transportados até o local de venda em caminhões da própria companhia. 

Os produtos oferecidos por esses comerciantes não eram encontrados no supermercado local, sendo predominantemente sapatos, roupas, artigos de armarinho e miudezas em geral, armazenados em três ou quatro maletas. A presença dos "marreteiros" em Serra do Navio era permitida pela ICOMI para evitar que as pessoas tivessem que percorrer os 200km até Santana ou Macapá. As viagens eram desgastantes e exigiam diversos sacrifícios, como o preparo e embalagem das mercadorias, viagens de caminhão e trem, além das condições de hospedagem. Mas, tinha o lado positivo: o faturamento dos três dias de venda compensava, pois tudo era pago em espécie e à vista. Nosso informante, que na época (anos 60), estava na faixa etária dos 10 para 15 anos, diz ter boas lembranças dessas aventuras, pois não perdia uma viagem.

Foto: Arquivo do blog

Quando ocorreu o incêndio de 1967, a Casa Flor da Síria, já pertencia à outra firma empresarial. A Casa Flor da Síria, da foto, era adjacente à Casa Flor do AfuáComo comerciante, Seu Esdras exerceu na década de 60, as funções de secretário e tesoureiro da Associação Comercial do Amapá, quando esta funcionava à Praça Veiga Cabral, na Av. General Gurjão, próximo ao prédio da Embratel. O comércio dele funcionou por dezesseis anos (1951 a 1967), e encerrou com o incêndio de parte na área comercial da Rua Cândido Mendes (lado esquerdo no sentido Av. Mendonça Junior para Av. Coaracy Junior), em 24.11.1967. Nesse incêndio, a família perdeu o comércio e a residência. A partir daí ele retomou às atividades anteriores ao comercio, como Construtor Civil. Entre as obras construídas, destacam-se o Supermercado Brunswick, o primeiro supermercado inaugurado em Macapá, em 1976, de propriedade do Sr. João Evangelista Alves Pereira na Av. Pe Júlio Maria Lombaerd (atual Supermercado Santa Lúcia); Galeria de Lojas na Av. Pe Júlio Maria Lombaerd, entre Rua Cândido Mendes e Rua São José, de propriedade do Sr. Celestino Pinheiro, dono da Casa Estrela. Como um dos pioneiros da Igreja Assembleia de Deus, colaborou na construção do primeiro templo da Igreja Pioneira (demolido), situado na Rua Tiradentes com a Av. Presidente Vargas. Na área administrativa, exerceu a função de tesoureiro da Igreja. Foi, ainda, professor da Escola Bíblica Dominical e integrante do Conjunto Coral da Igreja. Nos anos 80, exerceu a função de Evangelista e Diretor de Patrimônio (por um ano) na Igreja Assembleia de Deus, da Av. Cora de Carvalho; casou em Capanema (PA), com Marta Trajano Torres, em 24.03.1934, com quem teve 03 (três) filhos: Lourdes Trajano Torres, Itamar Trajano Torres e Irene Trajano Torres. Pr. ESDRAS PINHEIRO TORRES faleceu em Macapá, dia 18.08.1989, aos 84 anos de idade, vítima de ataque cardíaco (Infarto). Faleceu sem conhecer o Afuá; seu corpo descansa em paz no Cemitério de São José, no bairro Santa Rita. Seu nome foi dado a uma das Ruas do Bairro Jardim Marco Zero, por indicação do Vereador Adonias de Freitas Trajano. Chama-se Travessa Pr. Esdras Pinheiro Torres.

Fonte: Dados biográficos fornecidos pelo amigo Itamar Trajano Torres, filho do biografado. 

(Reeditado e atualizado em 04/04/2024 às 22h08)

domingo, 3 de março de 2024

MEMÓRIA CULTURAL DO AMAPÁ - DONA FELÍCIA – PRIMEIRA COSTUREIRA DOS BOÊMIOS DO LAGUINHO

Foto: Blog da Alcilene (Reprodução)

MARIA FELÍCIA CARDOSO RAMOS, nasceu em 24 de fevereiro de 1928, filha de José Monteiro Cardoso e Izabel Macedo Cardoso. Os avós maternos dela, eram o português Marçal Rodrigues Macedo e Custódia do Nascimento Macedo. Dona Custódia, foi escrava; ela nasceu em 5 de abril de 1892. Tia Felícia nasceu no Igarapé do Lago e foi registrada em Macapá. O filho do proprietário da Dona Custódia, a “desfez moça” por isso o dono dela a alforriou e fez o filho se casar com ela. Eles moravam no engenho em Mazagão Velho, município do Amapá, de maioria afrodescendente, área de forte conservação da cultura de base africana, mas foram expulsos de lá, indo morar no Igarapé do Lago – distrito de Santana, segundo maior município do Estado do Amapá e território de maioria afrodescendente.

Tia Felícia morou no centro comercial antigo de Macapá, onde hoje é a residência do governador. De lá os pais dela foram morar no Laguinho, e Tia Felícia foi morar em Belém-PA, onde aprendeu a costurar. Depois voltou para Macapá, casou-se com o Sr.José Libório Ramos, maquis conhecido por Matapi – religioso de cultos afros da umbanda e espiritismo - um dos 13 que fundaram a primeira escola de samba do Amapá, na esquina da Av. rua Mãe Luzia com a Eliezer Levy, com quem teve 16 filhos;

Costurar  era a profissão dela, o que fazia com  muito amor; foi dessa forma que conseguiu sustentar os filhos, principalmente depois que ficou viúva.

Tia Felícia tornou-se a costureira mais famosa do bairro; costurou 48 anos para a Escola de Samba Boêmios do Laguinho.

Ela começou a dançar Marabaixo depois de viúva, na casa do Mestre Julião; também gostava do batuque do Igarapé do Lago, já que sua descendência era de lá.

Tia Fé veio ao mundo quando Macapá. começava a abrir os olhos, e os negros iniciavam as vidas na Favela e no Laguinho, debaixo de todo o misticismo enraizado no sangue e na alma, como todos os descendentes dos escravizados africanos que aportaram em Mazagão.

Bordou e costurou na mão, pedra por pedra, lantejoula e brilho, as mais lindas roupas de destaques, rainhas da bateria e principalmente mestres-salas e porta-bandeiras da Nação Negra, que reforçaram sua fama com as inevitáveis notas 10. Quem frequentava a casa na General Osório, onde morou até partir, lembra das roupas reluzentes e luxuosas feitas por Tia Fé, penduradas em cabides, e de seu ritual pré-carnaval, de bordar a roupa no corpo dos principais artistas do Laguinho.

Contam os amigos que o mestre-sala Amaral, danado por natureza, era “guardado” por Tia Fé, na véspera do desfile para evitar qualquer situação que colocasse em risco a apresentação. Só era liberado para chegar na avenida Fab e dar o show que garantia a nota máxima no quesito. Tanto trabalho para bordar cada detalhe não a impedia de sair em sua escola do coração, e mesmo cansada, arrumava forças para rodar a saia na ala das baianas. Passado o carnaval, lá vinha Tia Fé com as flores na cabeça, emoldurar o cenário colorido das rodas de marabaixo, dançando até o fim, cantando os versos com os quais dona Isabel embalava os moleques da casa. Pelas contas dos mais antigos, embaraçadas na memória, a última porta-bandeira que teve a roupa bordada pela Tesoura de Ouro foi a Nega, que rodopiava com Amaral levando a bandeira vermelha e branca na cintura.

Mãe, marabaixeira, avó que criou os netos como filhos.

Maria Felícia Cardoso Ramos, primeira costureira da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, nos deixou em 2014, aos 86 anos de idade.

Fontes de pesquisa: Livros > Marabaixo, dança afrodescendente: significando a identidade étnica do negro amapaense – Piedade  Lino Videira e texto de Marileia Maciel publicado em 11 de março de 2014 no blog da Alcilene Cavalcante, sob o título: “Tia Fé, Tantam de Ouro faz seu última desfile no Laguinho”

domingo, 18 de fevereiro de 2024

MEMÓRIAS DA MACAPÁ DE OUTRORA - O LENDÁRIO 'URCA BAR'

Fizemos um corte nesta foto de 1957, para destacar o prédio do lendário "Urca Bar" porque infelizmente, não temos nenhum registro fotográfico disponível na internet, da época em que esse conceituado bar de Macapá, funcionava na esquina da Av. Feliciano Coelho com a Rua Eliezer Levy no bairro do Trem.

Demos ênfase ao citar a cidade de Macapá, para não confundir os leitores mais novos e/ou de outros estados, que não tenham conhecimento sobre a memória da capital amapaense, pois existe um Patrimônio Cultural carioca, desde 1939 conhecido como um dos locais mais charmosos do Rio de Janeiro.

Como surgiu?

O que se sabe foi contado por ele mesmo em 1987, ao jornalista Édi Prado e publicado no blog Porta-Retrato-Macapá, quando Édi era primeiro editor do Jornal do Dia.

O construtor do Urca Bar, de Macapá, foi o pioneiro Durval Alves de Melo, um afuaense que começou a trabalhar muito cedo, por ter perdido os pais ainda novo e após isso, foi levado para Belém, pela madrinha.

Na capital paraense, trabalhou na estrada de ferro, depois no Departamento de Limpeza Pública de Belém, e lá ouviu falar em Macapá. Diziam que estavam precisando de mão de obra e o governo estava contratando muita gente.

Sem dinheiro, ele decidiu aventurar, tentou e conseguiu a ajuda do Sr. Tibúrcio Ribeiro de Andrade, dono do barco que fazia linha para Macapá.

Ao chegar à cidade, passou por alguns perrengues, mas, pouco tempo depois conseguiu um emprego no Governo de Janary Nunes. Falava com orgulho por ter ajudado a construir o Macapá Hotel. Contava que lá, ele descascou cebola, batata, e depois passou a ser uma espécie de apontador, que distribuía tarefas, pela facilidade com que dominava os serviços.

Depois foi padeiro, cavou valas para a encanação do primeiro Poço do Mato, o primeiro de Macapá que atenderia a população da pequena cidade. Devido ao porte físico, foi convidado pelo governador para exercer a função na Guarda Territorial onde permaneceu durante sete anos. Como não era o que ele almejava, pois tinha ambições maiores, juntou umas economias e resolveu deixar a Guarda Territorial. Segundo ele, com uma poupança de cem Contos de Réis, montou o "Urca Bar" na esquina da Av. Feliciano Coelho com a rua Eliezer Levy, no bairro do Trem, iniciando as atividades etílicas e um espaço de encontro noturno.

Vale salientar, que a mudança da moeda corrente, para o Cruzeiro ocorreu em 01/12/1964, com promulgação da Lei nº 4.511.

A partir daí é o que se sabe:

O Urca Bar, foi um estabelecimento comercial montado nos anos 50, pelo comerciante Durval Alves de Melo, na esquina da Av. Feliciano Coelho com a Rua Eliezer Levy, no Bairro do Trem, que, anos mais tarde, foi repassado ao Sr. Alemão.

Foi o "point" da cidade!

Lembro bem que lá funcionava: o escritório da Vical, uma barbearia, salvo engano, do Joaquim, tinha a relojoaria do Isaac Bello e no início havia um alto-falante que tocava os boleros da época.

A partir da esquerda: Tenente Armando Amaral, marido da prof.ª Risalva Amaral; Tenente Pessoa (centro) e à direita o comerciante Alemão (não sei o nome dele), proprietário do Urca Bar. A sra. e o garoto não conseguimos identificar. (Foto: Família Pessoa) 

A amiga Eunice Santos Pereira, promotora de eventos na cidade, complementa lembrando que “o Urca Bar era um comércio que vendia gêneros alimentícios em geral, sendo seu proprietário chamado Sr. Alemão, que ao se aposentar da ICOMI, passou ser comerciante até, resolver ainda em vida, voltar para sua cidade de origem ( não lembro o nome ) passando o prédio para um dos seus funcionários antigo chamado Belmiro, onde por muito tempo administrou o bar se tornando sempre um ponto de comércio que, atendia principalmente os moradores do Bairro do Trem. Hoje o Sr. Belmiro continua no ramo comercial, com um ponto em frente da Sede do Trem, c/ a General Rondon”.

Fotos: Arquivo do blog

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

MEMÓRIA DA MACAPÁ DE OUTRORA – O LENDÁRIO “CLIP BAR”


O famoso “CLIP BAR”, de grata memória, foi um estabelecimento comercial (um bar) que servia de abrigo de passageiros para os ônibus circulares(Caixa de Cebola e Bossa Nova) na pacata Macapá, nos primeiros anos do Território Federal do Amapá.

Na verdade, foi um pequeno quiosque instalado em frente ao Mercado Central, na Praça Teodoro Mendes, área de entorno da Fortaleza de São José de Macapá

Era local de estacionamento de “carros de praça” (como eram chamados os taxis, naquele tempo), 

e carreteiros (caminhões de fretes). Seus frequentadores eram jornalistas, professores, motoristas, policiais, empresários e pessoas comuns, que por ali paravam para saborear um cafezinho, conversar sobre os acontecimentos da cidade, antes de irem para o trabalho, ou no retorno, depois das 18 horas.

O famoso bar, referencial na época, foi montado pelo empresário Durval Alves de Melo e funcionou no local por mais de uma década.

Em 1967, o governo militar do Amapá resolveu extinguir o local, sob acusação de “permitir reunião de subversivos que atentavam contra a segurança nacional”. (Edgar Rodrigues)

Durval Melo foi também proprietário do Urca Bar, no bairro do Trem.

Fontes: Édi Prado, Edgar Rodrigues e Alcinéa Cavalcante

Fotos de arquivo

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

MEMÓRIAS DO CARNAVAL DE MACAPÁ – BLOCO CAÇULA DO LAGUINHO

Meu amigo Luiz Jorge, Pinguim para os íntimos, amapaense da gema, saiu do Amapá, mas o Amapá não saiu dele. Vez por outra ele lembra os bons tempos da Sede dos Escoteiros do Laguinho. Já há algum tempo ele me mandou o seguinte :

“João, por volta de 1961, Seu Paulino viu uns meninos por perto da Sede dos Escoteiros do Laguinho, que se reuniam com latas e improvisados instrumentos e cantavam imitando uma Escola de Samba.  Falou com os pais deles e criou “O Caçula do Laguinho”, que tinham Fantasias, Pastoras, Mestre Sala e Balizas. O bloco era formado pelo Biló, Quincas, Lelé, Pedro Ramos, Sacaca, Saçuca, Pinguim, Nonato, Bomba d'água...e as meninas, e suas mamães.”

Em consulta ao professor Google fiquei sabendo também, que o Aureliano da Silva Ramos, conhecido no mundo artístico como Aureliano Neck, cantor, compositor, cidadão do samba, começou no mundo do samba aos cinco anos de idade, como passista do Bloco Caçula do Laguinho.

O “palco iluminado” dessa moçada era, nada mais nada menos, que a Sede dos Escoteiros Veiga Cabral, no “bairro moreno da cidade”, local em que muitos esportes eram praticados e sob a batuta do Chefe Humberto, também, as artes... Encenações de Cordões Juninos e Peças Teatrais... e Espetáculos Musicais.

E agora, no calor do carnaval ele me conta, com riquesa de detalhes,  o restinho dessa história:

“Por época de quase fevereiro de 1962, a recordação nos leva até o Bloco "Caçula do Laguinho"... Bloco Infantil criado a partir da observação de Seu Paulino, pai do Joaquim Ramos... O Quincas... exímio passista, que com outros meninos, ao lado de fora da Sede Escoteira, no espaço entre a Sede e o Campo de Treinamento do São José, munidos de latas vazias de Cera Poliflor e velhas frigideiras já sem uso batucavam, e obedeciam ao apito por assobio do Lelé, batucavam, cantavam e criavam Sambas, muitos até copiados do Boêmios do Laguinho, ou dublês de alguns Sambas Enredos do Rio...

Seu Paulino colocou ordem na casa...

Fez os garotos obedecerem a posicionamento, criou paradas para a batucada fazer um breque, conseguiu fantasias, para as Pastoras, Portas Estandartes e Mestres Salas e uniformes para os batuqueiros, tudo muito organizado...

Íamos já depois de muitos ensaios, às Batalhas de Confete, que aconteciam em vários bairros inclusive no próprio Laguinho, defronte a Casas Comerciais de importância renomada, por toda cidade em festa.

"O Caçula do Laguinho", por ser formado por crianças na faixa dos 10 a 13 anos, tinha o acompanhamento dos pais ou responsáveis; Dona  Josefa, era uma dessas pessoas, com muitos dos seus filhos e filhas sendo participantes... Pedro Ramos, Joaquim Ramos, Neck, algumas das suas filhas...

No segundo ano de Desfile, em 1963, o Bloco já criava seus Sambas, coletivamente, Nonato, Luiz, Lelé, Saçuca, Pedro, Zeca , Tomé, Munjoca, Arlindo, Queiroz, Joaquim, Zé Paulo, Sacaquinha, Seu Rô... as irmãs , as primas, e as amigas, engrossavam o coro...

“O Caçula do Laguinho”, fez a alegria dos pais dessa petizada carnavalescamente precoce... O pai do Saçuca... Seu Sussuarana, providenciava os couros para os instrumentos de percussão, e as caixas de madeira para criar os tambores, ou o Gabi, ou o Zé Cueca ou o Cecilio davam um jeito de arrumar...

Afinar... era fácil... uma fogueira e pô-los a esquentar seus couros, e baquetas à mão... batendo de leve e ouvindo o som apurar no tom.

Destes participantes do Caçula, amigos de infância, muitos munidos de seus Sambas, com o som dos seus repiques no ar, não estão mais conosco... porém muito destes enveredaram pelo caminho da Arte e ainda nos proporcionam alegria com suas criações...

Foi ler o texto do Fernando...(o Canto) e parece que me arrumei na casa do Lelé e desci a Av. Ernestino Borges... frigideira na mão, pé tuíra da poeira da rua, toda a felicidade na cara sorridente, nascendo as primeiras espinhas.

Afinal,...Tudo é Carnaval!”

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

MEMÓRIAS DO CARNAVAL AMAPAENSE - CADÊ O REI?

PREOCUPAÇÕES DA CORTE:

Sucuriju, o Rei Momo ainda sem sucessor.

O reinado do Carnaval do Amapá continua vazio. O mesmo ocorreu com a morte de Sacaca em 1999, aos 73 anos de idade.

Somente em 2003 é que Sucuriju ocupa o trono. Um vazio inexplicado.

CADÊ O REI?

Texto: Édi Prado e João Lázaro

Quem é o Rei Momo?

O querido personagem, rechonchudo e irreverente é historicamente o rei do Carnaval. “A ele são entregues, simbolicamente, as chaves da cidade pelas mãos do prefeito. A partir daí está aberto o reinado da folia, onde Momo reina absoluto até a Quarta-Feira de Cinzas. Isso em todas as esferas da sociedade, já que ele próprio é a personificação do Estado”, explica Augusto Neves, professor e doutor em história.

Origem da personagem

A origem remete ao tempo da Antiguidade Clássica, mais especificamente à mitologia grega. Pouca gente sabe, mas Momo, na verdade, era uma deusa. Filha de Nix (divindade do sono) era a personificação do sarcasmo, reclamação e delírio, patrona dos poetas e escritores. Ela era representada usando uma máscara e balançando guizos. Por seu jeito irônico, acabou sendo expulsa do Olimpo.

Não se sabe ao certo em que momento houve a mudança de gênero do personagem. “As representações sofrem transformações ao longo do tempo. Mediante o contexto de um paradigma patriarcal, melhor seria um homem para representar as relações de poder”, explica Rúbia Lóssio, socióloga, escritora folclorista e professora e membro da Organização Internacional de Arte Popular e Folclore (IOV).(uninabuco)

Pela carência de material de pesquisas a respeito do Carnaval Amapaense, ainda não encontramos catalogados os Reis Momos de Macapá. Sabemos que o carnaval começa a partir de 1943, quando o Amapá é desmembrado do Estado do Pará e criado o Território Federal do Amapá. Com a chegada de operários e trabalhadores de várias áreas de atuação, trazidos pelo então interventor, Janary Gentil Nunes, os trabalhadores de outros Estados, em especial os do Pará, acostumados à folia, decidiram “botar o bloco na rua”.

Com o tempo o carnaval foi se organizando, criando os blocos de sujos, Escolas de Samba, bandas, mascarados, carnaval de salão e toda a alegria dessa época. Os primeiros Reis Momos, lembrados pela velha guarda, sem firmeza de datas, começou na década de 60. Os precursores, imitações dos grandes centros, foram Altair Lemos, boêmio de nascença, um senhor alto, branco e bem forte, que morava no Laguinho, berço da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, fundado em 02 de janeiro de 1954. Altair Lemos faleceu em 1969. Foi então que o Bola 7 assumiu o trono. Era um negro forte, tratorista da Prefeitura Municipal de Macapá, que fez por muitos anos a coleta de lixo domiciliar de Macapá. Nada oficializado. Tudo na base do faz de conta, embora considerados pelos brincantes. A voz do Povo é a voz de Deus, diz o Velho Deitado.

Quem foi Altair Lemos?

Altair Cavalcante Lemos, nasceu em 11 de janeiro de 1932, em Macapá. Filho de Cícero Lemos e Carmosina Cavalcante Lemos, primeira mulher a ser tabeliã no Cartório Jucá. ALTAIR teve dois irmãos, Altamir e Maria da Consolação, já falecidos. Altair Lemos foi um dos precursores ambientalistas no Amapá. Quando funcionário da Prefeitura de Macapá, foi um dos criadores da “Turma do Buraco”,. Nada a ver com o carteado. Reuniu estudantes do Colégio Amapaense e plantaram as primeiras mangueiras no centro de Macapá. Fizeram a arborização da Praça "Barão do Rio Branco", avenidas Presidente Vargas, Mendonça Furtado, Iracema Carvão Nunes, entre outras.

Altair também gostava de jogar baralho com os amigos. Foi da mesa do carteado, jogado nos finais de semana na sede do Amapá Clube, que junto com Amujacy, Jarbas Gato, Zé Maria Frota e Aderbal Lacerda, saíram em uma manhã do carnaval de 1965, fantasiados com roupas, perucas e maquiagens das esposas para as ruas do centro de Macapá

Com uma enorme faixa escrito BLOCO DOS INOCENTES, os amigos barbarizaram a terça-feira gorda e chamaram a atenção por onde passavam.  Em 1964, os mesmos amigos “INOCENTES” criaram o Bloco A BANDA. Por seu porte físico, ALTAIR foi coroado como o REI MOMO DO CARNAVAL. O 1º na história do carnaval amapaense, diga-se.

Em maio de 1954, ALTAIR se casou com Graça Lemos, com quem teve cinco filhos: Nilton Mauro, Paulo Cezar, Antônio Sérgio, Gláucia Maria e Tica Lemos. Paulo Cezar, conhecido como Paulão que também brilhou nas quadras como jogador de basquete, faleceu em junho de 2002.

Em dezembro de 1969, ALTAIR sofreu um enfarte. Foi levado para Belém, mas, na tarde do dia 28 de dezembro, não resistiu a uma parada cardíaca e faleceu, aos 37 anos. (blog porta-retrato)

Imagem: WEB

Não se sabe ao certo quando o Raimundo dos Santos Souza, o Sacaca, foi coroado. 

Foto: blog De Rocha (Reprodução)

Aí começou de direito o reinado Momo, sendo oficializado pelo prefeito. 

Mas o reinado de Sacaca ao lado da Alice Gorda, Rainha Moma, foi longevo. Ele morreu em 1999, aos 73 anos de idade e somente em 2003, que Raimundo Tavares, o Sucuriju, assume o trono. Sucuriju nasceu em 23/03/1953 e faleceu em 03/02/2023, aos 69 anos.”Papai era registrado somente no nome da minha avó, Francisca Azevedo Tavares”. "Mas era feliz e um filho dedicado", informa a filha Heliane, mais conhecida tanto em casa como na comunidade por Preta. “Acho bem carinhoso quando me chamam assim”, confessa. Foi ela quem se prontificou a nos conceder a entrevista.

Sucuriju era casado com Dani Costa Tavares, com quem teve cinco filhos: Denilson, Heliane (Preta), Raimundo ( Mikiba), HelenaWilliam Tavares. Conheceu e conviveu com os nove netos. “A mamãe faleceu em 2013. Depois ele arrumou uma namorada. O nome dela é Luciene”, relata Preta. Ele era funcionário da prefeitura, desempenhava a função de motorista. Em outubro de 2020 ele passou na transposição para o quadro federal.

Preta lembra com saudades e risos do pai:” Meu pai sempre foi muito amigo de todos. Sempre tivemos hóspedes em nossa casa. Tanto para morar, passar uma noite, alguns dias ou somente para passar o dia em nossa casa. Era festeiro. Ele amava ter a casa sempre cheia. Era amigo para as horas boas e para momentos ruins. E não era por um momento, foi à vida toda”, recorda Preta. "Nunca tivemos panelas de tamanho normal em nossa casa. Sempre foram panelões. Porque sempre chegava alguém sem precisar por mais água no feijão," brinca Preta.

Ele era funcionário da prefeitura, desempenhava a função de motorista. Em outubro de 2020 ele passou na transposição para o quadro federal. Preta adianta que nesse período não sentiam a ausência dele durante o exercício do “reinado”, devido aos inúmeros compromissos. “Nós também íamos juntos, participar, entrar na onda”, relembra.

"Moramos por muito tempo na casa da minha avó paterna no Jesus de Nazaré, na Avenida Padre Manoel da Nóbrega. Depois moramos na casa da minha avó materna no Centro, na avenida Presidente Vargas. Depois moramos na avenida Marcílio Dias bem de esquina com a rua Odilardo Silva, de onde tivemos que sair às pressas devido a um aterramento mal planejado e nossa casa começou a tombar. Ficamos sem casa e voltamos a morar na casa da minha avó paterna e depois materna, acabamos fazendo o mesmo trajeto anterior. Ninguém sossegava até que em 1985 nos mudamos para o bairro Jardim Felicidade." Era um bairro novo. Tudo estava começando. Pouquíssimos moradores. Não tinha nem energia elétrica, água só do poço amazônico.  “Recomeçamos do zero em uma casa emprestada pelo meu padrinho, Alceu Paulo Ramos”, narra Preta.

"Nós sempre vivemos tudo junto com ele. Participávamos do máximo possível. Em casa reunia um grupo de casais, juntamente com alguns amigos. Reuniam-se em casa todos os finais de semana. Nesses encontros o papai deu a ideia de fundar uma escola de samba e ele falava nesse assunto todas as vezes que estavam juntos."

Até que todos concordaram e em julho de 1987 foi fundada a Escola de Samba Mocidade Independente Jardim Felicidade. “Papai foi um sambista precoce, juntamente com o Neck”. Desde os nove anos já era passista dos Boêmios do Laguinho. E foi se especializando. Era baterista, mestre de bateria, passista, mestre sala. Nossa casa era samba o ano inteiro.

Preta fala com orgulho pelo fato de Sucuriju ter sido um dos fundadores da União dos Negros do Amapá (UNA), em 1988 quando do Centenário da Abolição da Escravatura. Durante a missa, realizada na Igreja de São Benedito, “quando o papai fez uma bela performance. Foi lindo. Memorável”, relembra.

"Na Escola Mocidade Independente Jardim Felicidade, Sucurijú foi mestre sala, presidente, vice-presidente, ele foi de tudo um pouco. Tipo o jogador que bate escanteio, corre para cabecear e ainda agarrar a bola. Versátil, múltiplo e com vigor e alegria," ilustra Preta.

Sucuriju viveu intensamente. Era menino da Sede dos Escoteiros do Laguinho, jogava bola no Bariri, onde hoje é a União dos Negros do Amapá – UNA – No Campo do América, atual Praça Chico Noé. Vivia na sede dos Boêmios. Veio de uma família pobre e foi Rei. Rei da alegria, da união, solidariedade, da Mocidade, dos Boêmios. Foi o Rei do Carnaval durante 20 anos. Hoje fazemos essa homenagem póstuma, no reino do carnaval de 2024.

  (13/02/2024 - Atualizado às 10h30)

PIONEIRO DO ESCOTISMO AMAPAENSE > CHEFE DÁRIO CORDEIRO JASSÉ (in memorian)

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